01 novembro 2005

O Castelo Andante (4/5)

Confesso que começo a ficar verdadeiramente aficionado deste Hayao Miyasaki, o grande mestre de animação japonês, que transpira magia em cada segundo dos filmes que faz e que parece pensar cada cena, cada fotograma, como fazendo parte de um todo integrado, um todo coerente e sempre surpreendente. A imaginação anda à solta aqui como em nenhum outro tipo de cinema e não encontra sequer concorrência no restante cinema animado, onde as fronteiras são necessariamente mais ténues e a imaterialidade das personagens permite outros voos. Só que Miyasaki sonha invariavelmente mais do que os outros e voa sempre mais alto que todos...
Fazendo uso de um tipo de animação já caído em desuso em Hollywood, face à introdução do digital, Miyasaki toca-nos pela simplicidade, pela mensagem, pelos valores, pelo fantástico e pelo maravilhoso. As suas histórias parecem ter inevitavelmente personagens em processo de formação de personalidade em viagens fantásticas por universos povoados por bruxas e feiticeiros. Era assim em "A Princesa Mononoke" e em "A Viagem de Chihiro" e é também assim desta vez. Mas não há quem se consiga aborrecer com a recorrência do tema, dado o verdadeiro carrossel de imagens espectaculares e pormenores fabulosos que povoam os seus filmes. Até porque no final dessas jornadas de auto-conhecimento, é o bem que inevitavelmente prevalece sobre o mal e há sempre algo que se pode retirar para ensinar às sociedades modernas.
Se é certo que o cinema de animação se encontra de boa saúde um pouco por toda a parte, desde que se começaram a "adultizar" os filmes de desenhos animados tornando-os mais transversais aos diversos tipos de público, o cinema de Miyasaki não é decididamente algo que possa interessar às crianças. Mas interessa aos adultos, que podem assim, durante hora e meia, regressar à infância e viver um verdadeiro conto de fadas...