15 janeiro 2006

O Fiel Jardineiro (3/5)

Depois de tanta publicidade à volta do filme, depois de tantas expectativas criadas, depois de tantas e tão importantes nomeações para os globos, esperava muito mais deste "O Fiel Jardineiro". No fundo, só vem provar que vivemos em 2005 um verdadeiro mau ano de colheita, onde a qualidade média das películas se situou bem abaixo de outros anos e em que filmes medianos são considerados grandes obras-primas apenas porque o standard da indústria atingiu níveis mínimos históricos.
A dupla Fernando Meirelles / John le Carré prometia, claro. O primeiro foi realizador de "Cidade de Deus", um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos (se não mesmo o melhor de sempre) e que maior aceitação internacional granjeou. O segundo, apesar da sua última história adaptada para o ecrã não me ter convencido por aí além (falo de "O Alfaiate do Panamá") é um prestigiadíssimo romancista britânico, autor de best-sellers como "O Espião Que Veio do Frio" e "A Casa da Rússia".
A verdade é que infelizmente há John le Carré a mais neste filme e Fernando Meirelles a menos. Explico-me. Do inglês retemos a história, a espaços confusa, de um diplomata britânico (Ralph Fiennes) casado com uma activista dos direitos humanos (Rachel Weisz) metida numa investigação perigosa sobre os métodos pouco ortodoxos da indústria farmacêutica em África. A teoria da conspiração aparece aqui em todo o seu esplendor, como aliás já sucedia em "O Alfaiate do Panamá", transformando o argumento numa peça de propaganda política pouco credível. Quanto ao brasileiro, quedamo-nos com a forma peculiar de mostrar as cidades e as populações de África, bem ao jeito das favelas da “Cidade de Deus” mas sem nada do seu fôlego narrativo.
Enfim, como crítica social que é, “O Fiel Jardineiro” vale pelo alerta lançado ao planeta sobre algumas das atrocidades que são diariamente cometidas em África, ainda que os protagonistas principais possam não ser, necessariamente, os representados neste filme. Para encontrá-los, há que saber ler nas entrelinhas do romance e não nos prendermos nos detalhes de uma história que foi certamente escrita como uma metáfora da realidade. Esse foi, ainda assim, o maior mérito do escritor.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este "The Constant Gardener" é a prova de que nem sempre a fecundaçao de dois grandes talentos dá à luz um ser superior. A combinaçao da escrita quase sempre surpreendente de Le Carré como a forma de filmar única de Meirelles acabou por nao surtir o efeito desejado (e muito aguardado por alguns cinéfilos). Mesmo se o filme é sustentado por um actor da craveira de Ralph Fiennes...

17/1/06 15:30  

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