23 dezembro 2005

Uma Vida Inacabada (4/5)

O último filme de Lasse Hallstrom, realizador que goza de muita simpatia na Academia de Hollywood, é também o seu melhor. A espaços, faz lembrar a seriedade e a carga dramática que Clint Eastwood costuma colocar nos seus filmes, especialmente em Mystic River ou, mais recentemente, em Million Dollar Baby.
Também aqui temos personagens amarguradas, raiva mal contida e muito que não é dito, sendo até mais importante aquilo que não sabemos do que aquilo que nos é revelado. Robert Redford e Morgan Freeman fazem uma dupla improvável (há quem sugira até, lá para o meio do filme, que eles serão gays...) mas que resulta numa das mais belas relações a que alguma vez se assistiu em cinema, muito para além da simples amizade, cumplicidade ou companheirismo. Depois, é bom também ver que Jennifer Lopez não sabe só fazer de "Maid in Manhattan" e que um urso até podia ser nomeado para actor secundário.
Em suma, um filme que explora com argúcia as relações humanas e familiares, com a dose exacta de drama e tragédia, sem sentimentalismos e falsos moralismos. Um filme para ver e reflectir.

14 dezembro 2005

Flores Partidas (2/5)

Uma história que se conta em poucas palavras (o realizador demorou duas semanas e meia a escrevê-la), uma viagem de descoberta pessoal, um filme feito à medida de um actor, Bill Murray.
Uma viagem física, como recurso estilístico e narrativo, é quase sempre um pretexto para enquadrar um outro tipo de viagem, pessoal, humana, existencial, filosófica, pela qual uma determinada personagem passa ao longo de uma história e da qual sai necessariamente diferente. Mas nada disso acontece neste filme e talvez resida aí o verdadeiro McGuffin deste "Flores Partidas" e não em tentar descobrir qual das ex-namoradas enviou a carta que despoletou a referida viagem.
Seja como for, é pouco para um filme que ostenta o Grande Prémio do Júri de Cannes e que recebeu ainda uma nomeação para a Palma de Ouro. Jim Jarmusch, conhecido entre nós apenas pelo pouco meritório "Café e Cigarros", tinha ovos para fazer uma omelete melhor, se pensarmos na qualidade das actrizes (algumas resgatadas ao baú das esquecidas de Hollywood) e, claro, na inexpressividade expressiva de Bill Murray, que para comunicar nem precisa falar.
Um filme simples, demasiadamente simples.