20 novembro 2005

Flightplan - Pânico a Bordo (0/5)

Meter-se numa teia é fácil, o difícil é sair de lá...
Foi assim com este "Flightplan - Pânico a Bordo", que tem uma boa primeira meia hora dedicada a enredar o espectador numa trama complicada e sem resolução aparente, e um final desastroso, onde se deita fora tudo o que de bom tinha sido construído.
A história conta-se em poucas palavras, uma criança desaparece a bordo de um avião e a mãe (interpretada por Jodie Foster) faz de tudo para a encontrar. O problema é que esta é uma mãe emocionalmente instável e já não pode garantir se a criança estava mesmo a bordo. Até aqui tudo bem, o pior vem a seguir, com a entrada em cena de um vilão patético e pouco convincente (interpretado por Peter Sarsgaard) que nos faz mais rir do que sentir medo - veja-se a cena filmada a partir do óculo do cockpit. A credibilidade e a verosimilhança são factores determinantes quando se procura atemorizar o espectador mas aqui só conseguimos mesmo sentir pena de tão fraco argumento e de todos os lugares comuns que para aqui são convocados, desde o vilão que vai contando a forma como orquestrou o plano enquanto procura a vítima até à mensagem politicamente correcta de que "os árabes são nossos amigos".
Admito que não seja fácil, nos dias que correm, conseguir criar verdadeiros ambientes de tensão e suspense, quando o género thriller psicológico já foi tantas vezes reinventado. Mas então não se tente. Sob pena de o resultado final ser um desastre ainda maior do que aquele que o avião sofre no fim...

17 novembro 2005

Na Sua Pele (3/5)

Um filme com Cameron Diaz é sempre uma escolha segura, a mulher é de deixar qualquer um de boca aberta a olhar para o ecrã e inclusivamente os filmes que procuraram dissimular a sua beleza ("Gangs de Nova Iorque" e "Queres Ser John Malkovich?") deram-se mal nesse propósito porque até a dormir ela é linda.
A propósito, continuo sem perceber até hoje como foi possível que alguém tivesse feito um filme em que o personagem principal (interpretado por Tom Cruise) escolhia ficar com a Penélope Cruz em detrimento da Cameron. Meu Deus, mas não se despede a responsável de casting? Com quem é que ela teve que dormir para ficar com o emprego? E não há uma alminha que avise o realizador de que se calhar, mas só se calhar, a história assim não fica muito verosímil?
Bom, depois destes desvarios, vamos então ao que interessa... quem assistiu ao trailer deste "Na Sua Pele" deve ter pensado "não, obrigado, mais um filminho sobre mulheres à beira de um ataque de nervos e disputas de pé-de-chinelo nem pensar." Pois bem, afinal o filme não era assim tão leve como parecia e até tinha muito para contar. Isso e lições para aprender, mensagens a reter e actrizes em grande nível (reparem só na serenidade contida da maravilhosa Shirley MacLaine).
Podemos dizer que estamos perante (para utilizar uma expressão muito querida do colega João Lopes) um filme com conteúdo, bem-disposto e com uma tocante reflexão sobre a vida e as relações familiares. Sem lamechice, personalizado e sempre muito seguro.
E depois, claro, um filme que me consegue arrancar uma lágrima (ainda que furtiva, deve ter sido da música...) tem sempre o seu mérito já que não é de ânimo leve que puxo do lenço numa sala de cinema cheia de gente...

14 novembro 2005

O Senhor da Guerra (3/5)

Uma forma diferente de filmar um biopic, sem perdas de tempo com pormenores de infância e flashbacks habituais neste tipo de filmes para justificar o carácter da personagem, cingindo-se ao que verdadeiramente importa: a vida de um traficante de armas e a ténue fronteira que o separa de um "negociador" de armas - ideia importada do friendly blog The Live Parrot.
Nicholas Cage tem uma interpretação magistral (dará para oscar?) da personagem de Yuri Orlov, um ucraniano residente nos Estados Unidos, que ainda durante a Guerra Fria resolve começar a traficar armas, mas que só no final desta conhecerá verdadeiramente a prosperidade.
Perceber a forma como o traficante encara a sua profissão e a justifica aos olhos de quem a abomina é o que de mais interessante há no filme. Isso e a vontade reprimida de tomar uma posição sobre quem são os bons e os maus nesta história, deixando que seja o próprio espectador a decidir por si.
Num mundo de tantas contradições como aquele em que vivemos hoje, talvez só se salve mesmo quem não se importe com elas e as ponha antes a render...

10 novembro 2005

A Marcha dos Pinguins (4/5)

Fui ver "A Marcha dos Pinguins" apenas para comprovar a ideia que tinha de que era impossível fazer um filme de hora e meia sobre pinguins no meio do gelo sem aborrecer o espectador.
Enganei-me.
Pensava que os pinguins eram animais mais ou menos desinteressantes, ainda que fofinhos, sem qualquer tipo de história para contar. Pensava que um filme sem emoções, sem sentimentos e sem argumento estaria condenado à partida. Pensava, em suma, que filmes sobre pinguins só poderiam mesmo interessar a ecologistas ou a crianças. Estava enganado e a verdade é que dei por mim a sofrer pelo destino daqueles animais, como se de seres humanos se tratassem.
O filme, afinal, tinha tudo: heróis e vilões, drama e romance, emoção e suspense, e uma fabulosa narração que nos acompanha por todo o filme. O realizador, Luc Jacquet, conseguiu o grande feito de pôr animais a contracenar como se fossem actores, captando-lhes expressões e sons, e filmando-os nas diversas fases da sua vida.
E que vida, meu Deus! Quem achar que nós, humanos, sofremos muito nas vidas que levamos, olhe para os pinguins e aprenda. A fome, o frio, o isolamento e todo o género de privações são o quotidiano destes corajosos animais. E tudo para quê? Para defender essa mesma vida, valor supremo daquela comunidade, e assegurar a continuidade da espécie, tão difícil naquelas condições adversas.
A mãe Natureza pode orgulhar-se de ter sido aqui retratada em todo o seu esplendor.

09 novembro 2005

Alice (4/5)

Tocante, sensível e perturbador. Terno, pungente e arrebatador.
Assim é "Alice", a obra de estreia do realizador Marco Martins, que conta com uma fabulosa interpretação de Nuno Lopes no papel de um pai à procura da filha perdida, deambulando pela cidade de Lisboa, distribuindo flyers, enquanto repete, diariamente, os mesmos passos que deu no último dia em que a viu. Mais ainda que a personagem do pai, é a angústia a verdadeira protagonista neste filme, já que é por causa dela que as personagens humanas vão definhando a pouco e pouco, em movimentos de câmara necessariamente lentos e pesados, pois é de tempo que aqui se fala. O tempo que não passa para quem perdeu um ente querido e tem que carregar o mundo às costas, quando o mundo era, afinal, uma criança.
Não é a preto e branco que assistimos ao lento desmoronar de uma família, mas quase. Afinal, para quê colocar cor numa história que necessariamente não a tem nem pode ter? Salva-se o azul, afinal a única cor de que se fala em toda a história, a cor do casaco de Alice e a cor que representa a esperança deste pai, agarrado como pode à última imagem que tem da filha.
Tudo é belo neste filme, desde a fotografia de uma Lisboa que "não se vê nos filmes" (palavras do realizador) até à música, da autoria de Bernardo Sassetti. Dedicado à mãe do jovem Rui Pedro, o menino que desapareceu em 1998, Alice é um filme que imediatamente nos cativa e nos deixa a pensar no final que pior que a dor de perder é seguramente a dor de não saber...

05 novembro 2005

As Bonecas Russas (3/5)

Três anos depois, eis que surge "As Bonecas Russas", sequela do muito aclamado "A Residência Espanhola", e onde podemos agora acompanhar a vida de adulto de Xavier, depois da sua passagem pela vida universitária de Barcelona. É um Xavier necessariamente mais maduro que seguiremos neste filme (ainda que nem por isso com mais juízo), com as interrogações e dilemas próprios de quem já passou a barreira dos 30 e onde a pureza de ideais e sentimentos típicos da juventude desaparece para dar lugar a interrogações mais profundas sobre a vida, o trabalho e o amor.
Se querem a minha opinião, diverti-me bem mais com o choque de culturas que era, no fundo, o leitmotif principal de "A Residência Espanhola" e a ingenuidade da personagem de Xavier, perdido num mundo estranho e desconhecido onde nem a língua falava, e encontrado apenas na amizade multi-cultural aos seus colegas de residência. Ainda assim, é bom que Cédric Klapisch, o realizador, não tenha caído na tentação de fazer uma "Residência Espanhola 2", onde o resultado poderia vir a ser bem mais desastroso. Assim, ficamos com um filme novo, em que a estadia em Barcelona não passa de uma reminiscência remota, quase nunca recordada mas sempre presente, e onde no final podemos retirar uma importante lição para a vida futura: mais vale uma inglesa na mão do que duas francesas a voar...

01 novembro 2005

O Castelo Andante (4/5)

Confesso que começo a ficar verdadeiramente aficionado deste Hayao Miyasaki, o grande mestre de animação japonês, que transpira magia em cada segundo dos filmes que faz e que parece pensar cada cena, cada fotograma, como fazendo parte de um todo integrado, um todo coerente e sempre surpreendente. A imaginação anda à solta aqui como em nenhum outro tipo de cinema e não encontra sequer concorrência no restante cinema animado, onde as fronteiras são necessariamente mais ténues e a imaterialidade das personagens permite outros voos. Só que Miyasaki sonha invariavelmente mais do que os outros e voa sempre mais alto que todos...
Fazendo uso de um tipo de animação já caído em desuso em Hollywood, face à introdução do digital, Miyasaki toca-nos pela simplicidade, pela mensagem, pelos valores, pelo fantástico e pelo maravilhoso. As suas histórias parecem ter inevitavelmente personagens em processo de formação de personalidade em viagens fantásticas por universos povoados por bruxas e feiticeiros. Era assim em "A Princesa Mononoke" e em "A Viagem de Chihiro" e é também assim desta vez. Mas não há quem se consiga aborrecer com a recorrência do tema, dado o verdadeiro carrossel de imagens espectaculares e pormenores fabulosos que povoam os seus filmes. Até porque no final dessas jornadas de auto-conhecimento, é o bem que inevitavelmente prevalece sobre o mal e há sempre algo que se pode retirar para ensinar às sociedades modernas.
Se é certo que o cinema de animação se encontra de boa saúde um pouco por toda a parte, desde que se começaram a "adultizar" os filmes de desenhos animados tornando-os mais transversais aos diversos tipos de público, o cinema de Miyasaki não é decididamente algo que possa interessar às crianças. Mas interessa aos adultos, que podem assim, durante hora e meia, regressar à infância e viver um verdadeiro conto de fadas...