24 outubro 2007

The beautiful game...

O jogo de ontem da Liga dos Campeões, entre o Arsenal e o Slavia de Praga, em Londres, terminou com um resultado de 7-0 a favor da equipa local.

No final do jogo, aconteceu um episódio que nunca tinha visto num estádio de futebol. Os jogadores do Slavia de Praga dirigiram-se à bancada onde estavam os adeptos da sua equipa, ajoelharam-se e, durante mais de um minuto assim ficaram, pedindo desculpa pela humilhação que tinham acabado de sofrer.

Os adeptos do Slavia assistiram a isto em silêncio e quando os jogadores se voltaram a levantar brindaram-nos com um aplauso de pé.

Não consegui o vídeo mas garanto que as imagens dão arrepios. Daqueles que só os grandes momentos de futebol são capazes de dar.

Como dizia o Ferreira Fernandes, durante aquele minuto eu fui do Slavia de Praga.

Estaçoes a metro?

Temos indubitavelmente as carruagens de metro mais modernas da Europa e as estaçoes mais majestosas do mundo.

Quem entra nas estaçoes da linha vermelha, por exemplo, pensará que chegou ao Dubai ou a um qualquer emirado da Arábia, tal é a opulência exibida.

Ainda assim, se me perguntassem a minha opiniao, eu diria que prescindia de bom grado ter uma estaçao de Cabo Ruivo que faz inveja ao Museu d'Orsay em favor de mais uns kilometrozitos de linha.

Kilometrozitos que nos levassem, sei lá, às Amoreiras, ao Príncipe Real ou ao aeroporto. É que custa muito ter o único aeroporto da Europa que se encontra no centro da cidade que serve e, ainda assim, nao dispor de uma ligaçao ferroviária com a restante rede de transportes.

Em Portugal, as prioridades parece que estao sempre invertidas...

23 outubro 2007

O Tratado de Lisboa

Que orgulho, um Tratado de Lisboa...

A partir de agora, nas escolas e universidades de todos os países da Europa, depois dos Tratados de Roma, Maastricht, Amesterdao e Nice, os estudantes vao passar a ter que se debruçar também sobre o Tratado de Lisboa.

E é destes pequenos "achievements" que se vai construindo a imagem do nosso país lá fora, é com estas pequenas vitórias que Portugal se afirma como uma das grandes naçoes europeias. Se nao a nível de território e populaçao, pelo menos a nível de liderança, capacidade de trabalho, destreza negocial e vocaçao para gerar consensos.

E nao foi nada fácil gerá-los desta vez. Apesar do mandato claro que a presidência portuguesa tinha recebido por parte de todos os chefes de Estado reunidos no Conselho Europeu de Junho, na Alemanha, para a elaboraçao de um novo tratado que substituisse o defunto Tratado Constitucional, algumas das naçoes vinham com vontade de estragar a festa a Portugal.

A Bulgária queria utilizar o alfabeto cirílico para chamar "evro" à moeda única, a Áustria queria limitar a livre circulaçao de estudantes estrangeiros candidatos às suas universidades, a Itália queria mais um deputado no Parlamento Europeu e a Polónia (sempre a Polónia!) queria consagrar o compromisso de Ioannina como anexo ao tratado.

Foi preciso, por isso, apelar aos nossos melhores dotes de negociaçao (e já agora também àquele dote que nos fez famosos no mundo inteiro, o do "desenrascanço") para conseguir resolver estas contas de mercearia e conseguir que no final ficassem todos satisfeitos.

A soluçao encontrada para a questao da Itália, por exemplo, é de um brilhantismo excepcional e só podia ter ocorrido a portugueses: "Ai a Itália quer mais um deputado? Mas nao podemos passar o tecto dos 750. Bom, entao dá-se o deputado à Itália e o Parlamento passa a ter nao 751 deputados mas sim 750 mais o presidente." Genial!

A única mágoa que tenho (nao é mágoa, vá, é apenas pena) é que o tratado que será assinado a 13 de Dezembro nao seja sobre algo que afecte a vida das pessoas e sim sobre questoes internas de funcionamento e organizaçao da UE. É certo que foi decisivo para que finalmente se possa falar no fim da crise institucional que a Uniao atravessava há já alguns anos e isso, claro, é muito importante para que a Europa possa funcionar a 27 (em vez de a 15, como estava habituada), decida mais rapidamente, fale a uma única voz em questoes de política externa e sobretudo avance no caminho da prosperidade e pleno emprego prometidos na Estratégia de Lisboa.

Está certo, o Tratado de Lisboa nao consagrará no seu conteúdo nenhuma deliberaçao sobre as questoes mais prementes das sociedades actuais: pobreza, desigualdade, discriminaçao ou desemprego. Nao ajudou as famílias que se debatem com o problema de fazer face ao aumento das taxas de juro que pesam e muito sobre os seus orçamentos. Nao disse nada sobre o ambiente e a situaçao insustentável em que nos encontramos. Nem sequer disse nada sobre a necessidade vital de se erradicar o tabaco de todo e qualquer sítio público de uma vez por todas.

Mas é uma base, um ponto de partida. Se voltarmos a falar a uma mesma voz, se resolvermos as nossas questoes internas e formos mais rápidos a decidir, de certeza que todas as questoes anteriores nao ficarao sem resposta. Pelo menos, é essa a minha esperança.

E vamos sempre poder dizer que tudo começou em Lisboa...

20 outubro 2007

E quando eu pensava que a informática já não me podia surpreender...

19 outubro 2007

Mariza no David Letterman's Show

Quem acha que a Mariza exagerou um bocadinho na performance no programa do David Letterman ponha o dedo no ar.



Eu acho... mas é capaz de ser por não perceber nada de como se canta o fado...

E depois os americanos é que são isto e aquilo...

O Dalai Lama vem a Portugal e que lhe fazem o governo e a presidência da república? Fingem que não é nada com eles e não o recebem nem num anexo do Palácio de Belém.

Atendendo a que o Dalai Lama representa a resistência de um povo pacífico contra a tirania de um Estado totalitário que ocupa o seu território desde há umas décadas (onde é que eu já ouvi isto) não teria ficado mal aos responsáveis portugueses encontrar-se com o senhor, nem que fosse para lhe perguntar se tem passado bem. Mas claro, o medo da reacção chinesa falou mais alto e Portugal, apesar de já ter sido dono de metade do mundo, não quer agora comprar brigas com ninguém sobretudo com um Estado para onde estão a ser canalizados fortíssimos investimentos externos. Os empresários portugueses agradecem e que se lixem os tibetanos.

Há dois dias parece que o Dalai Lama foi aos EUA e que lhe fizeram? Bom, não só foi recebido pelo Presidente na Casa Branca como ainda recebeu a medalha de ouro do Congresso, a mais alta distinção atribuída a um civil. Isto apesar dos protestos do governo de Pequim que ameaçou que as relações entre os dois países nunca mais seriam as mesmas.

Os Estados Unidos podem ter muitos defeitos mas quem manda ali ainda são os americanos...

17 outubro 2007

Estes espanhóis estão loucos!

Assisti ontem a um debate na TVE que me deixou com os cabelos em pé.

O programa em questao chama-se "Tengo una pregunta para usted" e consiste em cidadaos anónimos, seleccionados aleatoriamente, colocarem questoes em directo e em estúdio a um líder político.

Há uns meses, o convidado foi o Presidente do Governo, José Luis Zapatero, e duas semanas depois, o líder da oposiçao, Mariano Rajoy.

Retenho sobretudo duas ideias sobre esses dois programas: em primeiro lugar, as preocupaçoes reveladas pelas pessoas nas suas perguntas nao sao muito diferentes das que surgiriam se o programa fosse adaptado para Portugal, com a educaçao (sobretudo o grave problema da deficiência do ensino do inglês em Espanha), a habitaçao e as baixas reformas à cabeça.

Em segundo lugar, uma espécie de genuinidade do discurso que os políticos adoptam em ocasioes deste tipo, uma vez que nao tiveram acesso às perguntas e portanto possibilidade de se prepararem, sendo por isso surpreendidos com a naturalidade das pessoas que lhes perguntaram de tudo, até quanto ganhavam (Rajoy saiu-se bem do tema, dizendo à reformada que o interrogava que ganhava seguramente mais do que ela e que o problema das baixas pensoes era um dos temas mais importantes da sociedade espanhola actual).

O programa de ontem foi, no entanto, diferente. Um dos convidados era Josep Lluís Carod-Rovira, líder da Esquerra Republicana de Cataluña, independentista convicto. Começou por nao querer responder a uma jogadora de andebol do Barça que lhe perguntava em que campeonato jogaria ela se a Catalunha se independentizasse e passou grande parte do tempo do programa "picado" com as perguntas que lhe iam sendo feitas por habitantes de outras regioes de Espanha que o provocavam "castelhanizando" o seu nome.

A certa altura, quando um cidadao de Valladolid se levantou para colocar a sua pergunta e começou por dizer "Buenas noches, Don José Luís", o senhor nem o deixou terminar: "Me llamo Josep Lluís y no José Luis. Yo me llamo así aquí y en la China, y usted no tiene derecho a modificar mi nombre."

Pior foi quando outra senhora de Valladolid, 3 perguntas mais à frente, começa a sua pergunta voltando a chamá-lo de José Luis e dizendo que nao tem o menor interesse em aprender catalao para o poder chamar de forma correcta.

Amigos castelhanos, catalaes, galegos, navarros, bascos, andaluzes, etc, vamos lá ver se nos entendemos. Vocês vivem todos no mesmo espaço geográfico, gozam de taxas de crescimento invejáveis, têm as vossas autonomias consagradas na lei e parlamentos próprios, ensinam as vossas linguas nas escolas e têm uma história em comum. Nao dá mesmo para se darem todos bem? Hein? Vejam lá isso.

(Video em http://www.elmundo.es/elmundo/2007/10/17/espana/1192572450.html)

O Livro de Reclamações

Sou um adepto convicto do Livro de Reclamações.

Desconfio que é capaz de não adiantar grande coisa e cair, na maior parte das vezes, em saco roto. Mas é divertido observar as expressões de terror que se formam em alguns funcionários de alguns estabelecimentos quando ameaçamos pedir o "Livro". O poder simbólico das palavras sempre me impressionou e é por isso que nao hesito em recorrer por tudo e por nada a esta "arma" posta à disposição do consumidor indefeso.

Com uma excepção: hotéis e restaurantes que quero/tenho que continuar a frequentar. Tenho demasiado respeito por gente que tem acesso à comida que eu vou comer ou ao quarto onde vou dormir...

16 outubro 2007

Mas há dúvidas?


Diferenças entre sexos

Metro de Madrid, cartaz publicitário bem apanhado.

A legenda ao cimo diz:

"El 80% de las mujeres verá a una madre con un niño.

El 100% de los hombres no sabrá de qué niño hablamos."

Diferenças entre Lisboa e Madrid 1

Em Lisboa um hotel precisa de fechar para obras um ano e meio e que acontece aos seus trabalhadores? Vão todos para o olho da rua.

Em Madrid um hotel precisa de fechar para obras um ano e meio e que acontece aos seus trabalhadores? Ficam em casa a receber os seus salários por inteiro enquanto o hotel não reabre. E os que quiserem ainda podem frequentar cursos gratuitos de inglês, informática e expressão corporal, como forma de ocupar os tempos livres.
Não é que não queiramos, é que não podemos...

15 outubro 2007

Adenda ao post anterior

Acabo de regressar de um fim de semana em Portugal com dois voos feitos na Vueling e mangas em Lisboa nem vê-las. A acusação que fiz à TAP no post anterior talvez seja injusta porque é possível que o facto da companhia não disponibilizar mangas aos seus passageiros nem sempre seja por não querer, mas por não poder.

A culpa só pode ser, assim, do Aeroporto da Portela. Abaixo qualquer solução para o novo aeroporto que passe pela Portela, como a Portela +1, Portela ⅜ ou Portela √25,5! Viva a Ota!

10 outubro 2007

Ainda a propósito de mudanças...

Deixei de voar com a TAP para passar a voar com a Vueling.

Tinha lido uma vez que o sucesso do modelo de negócio das low-costs se baseia em grande parte em tentar reduzir o mais possível os tempos de rotação. Ou seja, em procurar fazer com que o tempo em que o aviao está parado, entre que descarrega os passageiros de um voo e carrega os passageiros de outro, fosse o mínimo indispensável.

No caso das duas low-costs que já experimentei, Clickair e Vueling, o modelo é seguido à risca. Na última vez que voei, chegou a acontecer o caso caricato de o embarque começar mais de uma hora antes da hora prevista para o voo. Digo caricato porque estou habituado a voar numa companhia que, em mais de 100 voos realizados, nao conseguiu sair uma única vez na hora prevista. Caricato porque para essa companhia, o atraso nao é um precalço ou uma excepçao, é uma inevitabilidade e um modo de vida. Caricato também porque, ao contrário do que seria de esperar, por esta miserável prestaçao de um serviço faz-se pagar bem caro.

Essa companhia é a TAP. E se nao é capaz de chegar mais cedo, ser mais simpática nem prestar um melhor serviço que as suas concorrentes low-cost, nao percebo o porquê dos seus preços inflacionados. Com uma agravante: é que apesar de estar sedeada na Portela, nao há quem veja um aviao da companhia a deixar os seus clientes numa manga directa ao terminal. Nao, bom mesmo é depois de hora e meia num aviao, os passageiros serem enfiados num autocarro em "open-space", com 5 lugares sentados e onde há que realizar verdadeiros números de ginástica acrobática para nao deixar fugir as malas. E tudo para quê? Para poupar uns trocos porque parece que se se estacionar o aviao na pista, a rotaçao fica mais barata.

As low-cost, claro, nao se podem dar ao luxo de demorar horas a fazer embarques e desembarques com autocarros que levam meia dúzia de passageiros de cada vez e preferem pagar o custo da manga porque tempo é também dinheiro. E, nas suas sábias contas, lá chegaram à conclusao que, apesar de mais cara, a opçao pela manga é compensada pelos embarques mais escorreitos que conseguem fazer e, detalhezinho de somenos importância que também devia interessar a uma companhia de bandeira, até é mais cómodo para o cliente, esse bicho raro que é preciso conquistar todos os dias à custa de muito trabalho.
Se está visto que é possível oferecer um serviço de melhor qualidade, mais cómodo, rápido e eficaz a um preço inferior, porque é que a TAP nao o oferece? Porque nao quer abdicar das sandes a bordo nem das fardas da Maria Gambina? Mas um aviao é uma passerelle de moda ou um meio de transporte?

A minha nova casa...






























03 outubro 2007

Cozido à...

Existe um prato aqui em Madrid, talvez o mais típico da cidade, servido religiosamente por todos os restaurantes às quartas feiras ao almoço e que consiste em pedaços de frango, carne de vaca, orelha de porco, toucinho, farinheira, chouriço e morcela acompanhados de batata, couve, feijão, arroz e grão. E como é que se prepara esta salganhada toda? Bom, vai tudo para dentro de uma panela a cozer.

Como é que se chama este prato aqui em Madrid? "Cocido Madrileño", pois claro. E como é que se chama este mesmíssimo prato, servido pelos restaurantes de todo o Portugal às quartas-feiras ao almoço? "Cozido à Portuguesa".

Algúém me diz em que é que ficamos?

Portugal e Espanha

É sabido que ninguém gosta mais de Espanha do que eu. Que ninguém defende com mais unhas e dentes este povo quando em Portugal se desdenha tudo o que vem do outro lado da fronteira.

E é por isso que estou à vontade para o dizer, ainda que correndo o risco de ofender alguns que nao se reverão nesta crítica: o povo espanhol é um bocadinho... errr, como o dizer? Arrogante!

Não que haja algum problema com isso até porque é sabido que um dos representantes mais famosos do mundo dessa característica humana não se tem dado mal e é hoje um homem rico. Tal como rico é este povo, que cresce a olhos vistos e é considerado hoje o modelo a seguir por toda a União Europeia.

Como prova do que digo, apresento apenas dois exemplos. Dois espanhóis, de classe média, formados e esclarecidos, vieram ter comigo e perguntaram-me em momentos diferentes:

- O Camacho a falar português é uma desgraça, não é? Vocês não preferiam que ele falasse castelhano?
(Sim, claro que preferíamos, tal como tu também preferias que um espanhol não tivesse nunca que passar pela humilhação de ter que falar português).

- Tu que és português, diz-me lá: Quem achas que perdeu o Eurobasket? O Pepu (treinador) ou o Pau (melhor jogador)?
(Parece que o debate em Espanha foi intenso sobre quem foi o responsável pela derrota no Eurobasket jogado em casa, mas nunca ocorreu a ninguém que talvez não tenha sido a Espanha a perdê-lo, mas sim a Rússia a ganhá-lo).

Vivemos tão perto uns dos outros e somos tão diferentes... nós somos os coitadinhos, eles são os eternos vencedores. Nós receamos, lamentamo-nos e queixamo-nos. Eles têm a certeza que são superiores e que ganharão sempre. Não sei quem é melhor e pior. Hoje os espanhóis estão por cima e talvez alguma dose do seu sucesso se deva a isto. Exageram nas suas convicções? Nao sei. Só sei que também não nos fazia mal nenhum um pouquinho mais de confiança em nós próprios...

01 outubro 2007

Bush e Aznar em discurso directo (Público)

Um documento histórico raro, daqueles em que temos a oportunidade de conhecer os contornos das grandes decisões políticas e por breves momentos imaginar-nos lá, privando com os maiores líderes mundiais.

Se não estiver adulterado ou "embelezado", o diálogo revela-nos um Bush determinado nos seus objectivos, cínico e pragmático como já esperávamos, mas simultaneamente esclarecido, racional e eloquente, bem ao contrário da imagem que temos dele.

Quem sai mal na fotografia é Aznar, que demonstra uma timidez, uma subserviência e um calculismo que não lhe conhecíamos.

Obrigado Público e El País.

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No encontro no rancho do Presidente americano, Bush diz a Aznar que ambos são guiados por um sentido histórico de responsabilidade.

BUSH: Somos a favor de conseguir uma segunda resolução no Conselho de Segurança e queríamos fazê-lo rapidamente. Queríamos anunciá-la segunda ou terça-feira [24 ou 25 de Fevereiro de 2003].

AZNAR: É melhor na terça-feira, depois da reunião do Conselho de Assuntos Gerais da União Europeia. É importante manter o momentum conseguido pela resolução da cimeira da UE [em Bruxelas, segunda-feira 17 de Fevereiro]. Nós preferíamos esperar até na terça-feira.

BUSH: Poderia ser na segunda à tarde, tendo em conta a diferença horária. De qualquer maneira, durante a próxima semana. Redige-se a resolução de modo a que não tenha elementos obrigatórios, que não mencione o uso da força, e que diga que Saddam Hussein tem sido incapaz de cumprir as suas obrigações. Este tipo de resolução pode ser votada por muita gente. Seria parecida com a que se conseguiu para o Kosovo [a 10 de Junho de 1999].

AZNAR: Apresentar-se-ia ao Conselho de Segurança antes e independentemente de uma declaração paralela?

CONDOLEEZA RICE: Na verdade não haveria declaração paralela. Estamos a pensar numa resolução tão simples quanto possível sem muitos pormenores de cumprimento que pudessem servir a Saddam Hussein para os utilizar como etapas e consequentemente não as cumprir. Estamos a falar com [Hans] Blix [chefe dos inspectores da ONU] e com outros da sua equipa para ter ideias que possam servir para introduzir a resolução.

BUSH: Saddam Hussein não vai mudar e continuará a jogar. Chegou o momento de nos desfazermos dele. É assim. Eu, pela parte que me toca, procurarei a partir de agora usar uma retórica o mais subtil possível, enquanto tentamos a aprovação da resolução. Se alguém veta [Rússia, China e França têm como os EUA e o Reino Unido poder de veto no CS da ONU] nós vamos. Saddam Hussein não está a desarmar. Temos de o agarrar já agora. Temos mostrado um grau incrível de paciência. Faltam duas semanas. Em duas semanas estaremos prontos, em termos militares. Creio que conseguiremos a segunda resolução. No Conselho de Segurança temos três africanos [Camarões, Angola e Guiné] os chilenos, os mexicanos. Falarei com todos eles, também com [Vladimir] Putin naturalmente. Estaremos em Bagdad no final de Março. Há 15 por cento de hipóteses de que nesse momento Saddam Hussein esteja morto ou tenha ido embora. Mas estas possibilidades só existem depois de termos mostrado a nossa resolução. Os egípcios estão a falar com Saddam Hussein. Parece que indicou que estaria disposto a exilar-se se o deixassem levar mil milhões de dólares e toda a informação que quisesse sobre armas de destruição maciça. [O líder líbio, Muammar] Kadhafi disse a [Silvio] Berlusconi que Saddam queria ir. [O Presidente egípcio, Hosni] Mubarak disse-nos que nestas circunstâncias há muitas possibilidades de que seja assassinado. Gostaríamos de actual com mandato das Nações Unidas. Se actuarmos militarmente fá-lo-emos com grande precisão e focalizando muito os nossos objectivos. Temos feito chegar uma mensagem muito clara a Saddam Hussein: tratá-los-emos como criminosos de guerra. Sabemos que acumulou uma enorme quantidade de dinamite para fazer voar pontes e outras infra-estruturas e fazer saltar pelos ares os poços de petróleo. Temos previsto ocupar esses poços muito em breve. Também os sauditas nos ajudariam a pôr no mercado o petróleo que fosse necessário. Estamos a desenvolver um pacote muito forte de ajuda humanitária. Podemos vencer sem destruição. Estamos a planear já o Iraque pós-Saddam, e acredito que há boas bases para um futuro melhor. O Iraque tem uma boa burocracia e uma sociedade civil relativamente forte. Poderia organizar-se numa federação. Enquanto isso, estamos a fazer todos os possíveis para ter em conta as necessidades políticas dos nossos amigos e aliados.

De modo a ajudar-te

AZNAR: É muito importante contar com uma resolução. Não é a mesma coisa actual com ela ou actuar sem ela. Seria muito conveniente contar no Conselho de Segurança com uma maioria que apoiasse essa resolução. De facto, é mais importante contar com maioria do que se alguém emitir um veto. Achamos que o conteúdo dessa resolução deve dizer entre outras coisas que Saddam Hussein perdeu a sua oportunidade.

BUSH: Sim, claro. Seria melhor isso do que fazer uma referência aos “meios necessários” [referência à resolução tipo da ONU que autoriza a utilização de todos os meios necessários].

AZNAR: Saddam Hussein não cooperou, não desarmou, deveríamos fazer um resumo dos incumprimentos e enviar uma mensagem mais elaborada. Isso permitiria por exemplo que o México se mexesse [referência à posição contrária à segunda resolução, que Aznar ouviu da boca do Presidente Vicente Fox numa escala realizada na Cidade do México a 21 de Fevereiro].

BUSH: A resolução será feita de modo a ajudar-te. Tanto me faz o conteúdo.

AZNAR: Faremos com que te cheguem uns textos.

BUSH: Nós não temos nenhum texto. Só um critério: que Saddam Hussein desarme. Não podemos permitir que Saddam Hussein alargue o prazo até ao Verão. Ao fim e ao cabo teve quatro meses nesta última etapa e esse tempo é mais do que suficiente para se desarmar.

AZNAR: Ajudava-nos esse texto para sermos capazes de o patrocinar e sermos seus co-autores e conseguir que muita gente o apoiasse.

BUSH: Perfeito.

AZNAR: Na próxima quarta-feira [26 de Fevereiro] vejo [Jacques] Chirac. A resolução já terá começado a circular.

Cumprimentos a Chirac

BUSH: Parece-me muito bem. Chirac conhece perfeitamente a realidade. Os seus serviços de espionagem já lha explicaram. Os árabes estão a transmitir a Chirac uma mensagem muito clara: Saddam Hussein deve ir embora. O problema é que Chirac acha que é o Senhor Árabe e na realidade está a fazer-lhes a vida impossível. Mas não quero ter nenhuma rivalidade com Chirac. Temos pontos de vista diferentes. Dá-lhe os melhores cumprimentos da minha parte! Quanto menos rivalidade ele sentir que há entre nós, melhor para todos.

AZNAR: Como se combina a resolução e o relatório dos inspectores?

RICE: Na verdade não haverá relatório a 28 de Fevereiro. Os inspectores apresentam um relatório escrito a 1 de Março, e a sua comparência perante o Conselho de Segurança não acontecerá antes de 6 ou 7 de Março de 2003. Não esperamos grande coisa desse relatório. Como nos anteriores, Blix dará uma no cravo e outra na ferradura. Tenho a impressão de que Blix será agora mais negativo do que antes sobre a vontade dos iraquianos. Depois da comparência dos inspectores no Conselho de Segurança devemos prever o voto sobre a resolução uma semana depois. Os iraquianos, entretanto, tentarão explicar que vão cumprindo as suas obrigações. Nem é certo nem será suficiente, ainda que anunciem a destruição de alguns mísseis.

BUSH: Isto é como a tortura chinesa da água. Temos de lhe pôr fim.

AZNAR: Estou de acordo. Mas seria bom contar com o máximo de gente possível. Tem um pouco de paciência.

BUSH: A minha paciência está esgotada. Não penso passar da metade de Março.

AZNAR: Não te peço que tenhas uma paciência infinita. Simplesmente que faças o possível para que tudo se enquadre.

BUSH: Países como o México, Chile, Angola e Camarões devem saber que o que está em jogo é a segurança dos EUA e agir em relação a nós com um sentido de amizade. [O Presidente Ricardo] Lagos deve saber que o Acordo de Comércio Livre com o Chile está pendente de confirmação no Senado e que uma atitude negativa neste tema poderia pôr em perigo essa ratificação. Angola está a receber fundos do Millenium Account [fundo de ajuda da Casa Branca] e também podem ficar comprometidos se não se mostrarem positivos. E [Vladimir] Putin deve saber que com a sua atitude está a pôr em perigo as relações da Rússia com os Estados Unidos.

AZNAR: Tony queria chegar até 14 de Março.

BUSH: Eu prefiro o dia 10. Isto é como o jogo do polícia mau e do polícia bom. Eu não me importo de ser o polícia mau e que Blair seja o bom.

Milosevic, Madre Teresa

AZNAR: É verdade que é possível que Saddam se exile?

BUSH: Sim, existe essa possibilidade. E até que seja assassinado.

AZNAR: Exílio com alguma garantia?

BUSH: Nenhuma garantia. É um ladrão, um criminoso de guerra. Comparado com Saddam, [Slobodan] Milosevic seria uma Madre Teresa. Quando entrarmos vamos descobrir muito mais crimes e vamos levá-lo ao Tribunal Internacional de Justiça de Haia. Saddam Hussein acredita que escapou. Crê que a França e a Alemanha conseguiram congelar as suas responsabilidades. E acredita que as manifestações da semana passada [sábado 15 de Fevereiro] o protegem. E que eu estou muito debilitado. Mas as pessoas que o rodeiam sabem que as coisas são diferentes. Sabem que o seu futuro está no exílio ou num caixão. Por isso é tão importante manter esta pressão sobre ele. Kadhafi disse-nos indirectamente que só isso é que pode acabar com ele. A única estratégia de Saddam Hussein é atrasar, atrasar, atrasar.

AZNAR: Na realidade, o maior sucesso era ganhar o jogo sem disparar um só tiro e entrando em Bagdad.

BUSH: Para mim seria a solução perfeita. Eu não quero a guerra. Sei o que são as guerras. Sei a destruição e a morte que trazem. Eu sou o que tem de consolar as mães e as viúvas dos mortos. Claro, para nós essa seria a melhor solução. Para além de tudo, poupávamos 50 mil milhões de dólares.

AZNAR: Precisamos que nos ajudes com a nossa opinião pública.

BUSH: Faremos tudo o que pudermos. Quarta-feira vou falar sobre a situação no Médio Oriente, propondo um novo esquema de paz que conheces, e sobre as armas de destruição maciça, os benefícios de uma sociedade livre, e situarei a história do Iraque num contexto mais amplo. Talvez vos sirva.

AZNAR: O que estamos a fazer é uma mudança muito profunda para Espanha e para os espanhóis. Estamos a mudar as políticas que o país tem seguido nos últimos 200 anos.

BUSH: Eu sou guiado por um sentido histórico da responsabilidade, como tu. Quando daqui a alguns anos a História nos julgar não quero que as pessoas se perguntem por que é que Bush, ou Aznar ou Blair não enfrentaram as suas responsabilidades. No final, o que as pessoas querem é gozar de liberdade. Há pouco tempo, na Roménia, recordaram-me o exemplo de [Nicolae] Ceausescu: bastou que uma mulher lhe chamasse mentiroso para que todo o edifício repressivo viesse a baixo. É o poder imparável da liberdade, Estou convencido de que conseguirei a resolução.

AZNAR: Óptimo.

Moreno e muçulmano

BUSH: Eu tomei a decisão de ir ao Conselho de Segurança. Apesar das divergências na minha Administração, disse à minha gente que tínhamos de trabalhar com os nossos amigos. Será estupendo contar com uma segunda resolução.

AZNAR: A única coisa que me preocupa é o teu optimismo.

BUSH: Estou optimista porque acredito que estou certo. Coube-nos fazer frente a uma séria ameaça contra a paz. Irrita-me muitíssimo ver a insensibilidade dos europeus face ao sofrimento que Saddam Hussein inflige aos iraquianos. Talvez porque é moreno, longínquo e muçulmano, muitos europeus pensam que está tudo bem com ele. Não esquecerei o que me disse uma vez [Javier] Solana: é porque os americanos pensam que os europeus são antisemitas e incapazes de enfrentar as suas responsabilidades. Essa atitude defensiva é terrível. Tenho de reconhecer que com Kofi Annan tenho relações magníficas.

AZNAR: Partilha as tuas preocupações éticas.

BUSH: Quanto mais os europeus me atacam mais forte sou nos EUA.

AZNAR:Teremos de tornar a tua força compatível com o apreço dos europeus.

Exclusivo PÚBLICO/ El País

Euros e escudos - o esclarecimento que faltava

Hoje debruço-me sobre uma temática premente nas sociedades europeias contemporâneas: o euro.

Não o Euro de futebol (calma rapazes, isso é só no Verão do próximo ano!) mas a moeda.

Quantas e quantas vezes ouvimos dizer ao cidadão anónimo que desde que chegou o euro a vida está mais cara, que já não temos o poder de compra de antigamente, que o dinheiro dura menos, etc, etc. E não, não é um fenómeno exclusivamente português, como alguns poderiam pensar, queixosos que somos sempre. Não, aqui nesta outra nação ibérica onde agora resido, com taxas de crescimento de mais de 3% ao ano, com superavit nas contas públicas, com desemprego reduzido e onde se oferecem 2500 euros para se ter bebés, passa-se o mesmo.

"Ah, que o dinheiro não chega a nada, que antes se jantava bem com 2.000 pesetas e hoje 15 euros não dá nem para tomar o pequeno almoço, que se levanta dinheiro quase todos os dias..."
Será esta percepção correcta ou andaremos todos enganados? A culpa será mesmo do euro?

Não, a culpa não é do euro, a culpa é de não sabermos fazer contas. Tirem um minuto para pensar e analisem: o escudo acabou quando? 31 de Dezembro de 2001. Quando hoje pegamos num valor em euros e o convertemos para escudos, qual é a noção de escudos que temos na cabeça? A de 2001. Ou seja, passamos olimpicamente por cima de 6 anos de inflação e traduzimos directamente 20 euros por 4 contos. Não admira que as coisas pareçam caras. Efectivamente, eu em 2001 conseguia comprar muita coisa com 4 contos e hoje 20 euros não duram nada. Obrigado... o meu pai em 1970 também andava de autocarro por 5 tostões...

Provocação futebolística

Não percebo porque é que dizem que este campeonato não vai ter piada nenhuma... a luta pelo segundo lugar está ao rubro.